Setores em Alta e 6 Ações Promissoras para Acompanhar após a Temporada Positiva do 2T24
Os setores financeiros e as empresas voltadas ao mercado interno se destacaram, enquanto o desempenho das commodities ficou aquém das expectativas.
A temporada de resultados do segundo trimestre de 2024 (2T24) chegou ao fim, sendo avaliada como positiva pelos especialistas do mercado, o que contribuiu para que o Ibovespa atingisse suas máximas durante o mês de agosto. A equipe de estratégia do Itaú BBA salientou um crescimento expressivo, em dois dígitos, nos lucros anuais, particularmente no setor financeiro e entre as empresas domésticas, enquanto as commodities registraram uma performance inferior.
De acordo com a análise, cerca de 68% das empresas (ponderadas pela capitalização de mercado) mostraram crescimento no lucro líquido em relação ao ano anterior (contra 64% no 1T24), e 39% superaram as expectativas de lucro (versus 44% no 1T24). Olhando para o futuro, tanto o Itaú BBA quanto o consenso de mercado ainda preveem um crescimento de dois dígitos no lucro por ação (LPA) para o ano completo.
O BBA destacou seis principais observações nesta temporada:
1) Resumo do 2T24 e Tendências: Os resultados consolidados do 2T24 revelaram um aumento expressivo no lucro líquido em relação ao mesmo período do ano anterior, em parte devido a uma base de comparação baixa. Em termos gerais, o lucro líquido expandiu 48% na base anual, ou 51% quando excluídas as performances de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3). O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) também cresceu, com um aumento de 17% ano a ano, ou 13% sem considerar o desempenho dessas duas gigantes. As previsões consensuais para 2024 indicam uma expansão de dois dígitos tanto no lucro líquido quanto no Ebitda, com o crescimento sendo impulsionado principalmente por empresas financeiras e domésticas, enquanto as empresas de commodities devem ficar para trás. O banco vislumbra um potencial de melhoria nos lucros em uma base consolidada.
2) Destaques da Cobertura e Setores: Os números consolidados para a cobertura do BBA indicaram um crescimento mais amplo na base anual, com mais de 60% das empresas reportando aumento no lucro líquido (68%), Ebitda (75%) e receita (92%). A difusão do crescimento trimestral também se manteve sólida, embora em menor grau, com mais de 55% das empresas registrando aumento no lucro líquido, Ebitda e receita em uma base sequencial. Além disso, 68% das empresas analisadas tiveram uma visão positiva dos analistas, enquanto apenas 4% receberam avaliações negativas. A maioria dos setores domésticos e financeiros mostrou tendências de expansão anual em diversos indicadores, como receita, Ebitda e lucro líquido. Entre os destaques positivos estiveram os setores de Bens de Capital e Consumo. Por outro lado, Siderurgia & Mineração, Agronegócio e Petróleo & Gás tiveram o pior desempenho em termos de crescimento ano a ano, com mais da metade das ações desses setores apresentando contração nos lucros durante a temporada do 2T24.
3) Tendências de Lucros e Revisões: O Itaú BBA observou uma leve deterioração nas revisões de lucros projetadas para o final de 2024 nos últimos meses; no entanto, as estimativas para o final de 2025 mostraram revisões positivas. O setor de commodities enfrentou a maior volatilidade nas revisões para 2024 durante o último mês, ao lado do setor doméstico, enquanto o setor financeiro se destacou como o mais resiliente. Os setores domésticos sofreram revisões negativas nas previsões de lucros para 2024 em todas as janelas temporais analisadas (1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 meses). Por outro lado, os setores de Bens de Capital, Alimentos & Bebidas e Saúde foram destaques positivos nas revisões de lucros, tanto nas janelas de 1 mês quanto de 3 meses.
Uma Temporada Positiva de Resultados
Em um relatório recente, divulgado após uma série de encontros com gestores localizados no Rio de Janeiro, o JPMorgan destacou que “há um reconhecimento generalizado de que esta foi uma temporada de lucros excepcional, com poucas exceções, como a Localiza (RENT3)”. A estrategista do banco, Emy Shayo, também enfatizou que os resultados dos bancos foram amplamente vistos como positivos, embora já exista uma percepção de que alguns ativos, especialmente o Itaú (ITUB4), foram reclassificados após a recente valorização das ações.
O BTG Pactual também analisou como os resultados consolidados se compararam às suas estimativas e aos trimestres anteriores. De maneira geral, os números (excluindo Petrobras e Vale) se mostraram sólidos, com receitas, Ebitda e lucro líquido superando suas projeções em 3,1%, 2,3% e 5,3%, respectivamente. No entanto, ao considerar apenas as empresas voltadas ao mercado interno, os resultados foram variados, com receitas e Ebitda 2,5% e 3,1% acima das previsões, enquanto o lucro líquido ficou 3,8% abaixo do esperado.
Ao comparar o segundo trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado, os resultados mostraram-se em grande parte robustos, com a receita consolidada e o Ebitda (ex-Petrobras e Vale) crescendo 10,3% e 21%, respectivamente, na base anual, embora o lucro líquido tenha sofrido uma ligeira queda de 1,5%. No segmento de commodities, os resultados foram mistos; as receitas e o Ebitda apresentaram desempenhos decentes, com aumentos de 9,9% e 11,3% na base anual, mas o lucro líquido despencou 74,6%. Em contraste, as empresas domésticas tiveram um desempenho mais forte, com receitas, Ebitda e lucro líquido crescendo 9,6%, 18,4% e 26,9%, respectivamente, em comparação ao ano anterior.
Desdobramento por Setores
De acordo com o Bank of America (BofA), a recuperação das indústrias voltadas ao mercado interno continua em ritmo acelerado, impulsionada principalmente pelas bases de comparação mais fáceis em relação a 2023. Os lucros no 2T24 foram impulsionados, em grande parte, por uma recuperação robusta nos setores de utilities (concessões de serviços públicos), finanças, construção civil e educação.
O setor financeiro de grande capitalização no Brasil apresentou resultados sólidos, com crescimento acelerado dos lucros, conforme avaliado pelo BofA. No entanto, para as empresas de commodities, o banco americano observou um desempenho misto. Os resultados da Vale ficaram abaixo das projeções devido a preços mais fracos para minério de ferro e cobre (3% e 6% abaixo do esperado, respectivamente), o que compensou parcialmente os embarques de minério de ferro, que foram mais robustos do que o previsto. A Usiminas (USIM5) registrou uma perda significativa no 2T24, atribuída a custos mais elevados.
Por outro lado, a CSN (CSNA3) e a CSN Mineração (CMIN3) superaram as expectativas do BofA, impulsionadas por resultados mais fortes no segmento de mineração, devido a preços e volumes mais elevados, seguidos por uma melhora nos custos do aço. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBAV3) também reportou resultados positivos no 2T24 no segmento de energia, embora os custos mais altos do alumínio tenham sido parcialmente compensados por melhores embarques. Os produtores de celulose, por sua vez, apresentaram bons resultados, beneficiados por preços mais altos da celulose e pela depreciação do real.
No setor de petróleo e gás na América Latina, o cenário foi misto. Os resultados da Petrobras (PETR4) ficaram ligeiramente abaixo das expectativas do BofA, principalmente devido a despesas fiscais mais elevadas. Em contrapartida, a PRIO (PRIO3) teve resultados levemente superiores, impulsionados por maiores realizações de preços, enquanto a 3R Petroleum (RRRP3) apresentou um forte fluxo de caixa livre (FCF). A PetroReconcavo (RECV3) também reportou melhorias durante o 2T24, embora não tenham sido tão fortes quanto o esperado, devido a preços de realização de gás natural menores do que o projetado.
Entre as empresas de distribuição de combustíveis, o 2T24 apresentou novamente resultados mistos. A Vibra (VBBR3) registrou margens fortes, enquanto a Ultrapar (UGPA3) reportou resultados aquém das expectativas, devido a margens mais fracas da Ipiranga, sua subsidiária de distribuição de combustíveis.
No segmento de transporte, os resultados do 2T24 foram, em sua maioria, fracos. No setor de aluguel de carros, observou-se um padrão distinto entre Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3). Enquanto a Movida relatou tarifas de alta qualidade, superiores ao esperado, a Localiza apresentou resultados negativos, atribuídos a custos e despesas de caixa elevados, comprometimento da frota e uma orientação de depreciação ainda elevada. Os resultados da Vamos (VAMO3) ficaram abaixo das estimativas devido a provisões para devedores duvidosos e uma margem Ebitda menor da concessionária. No setor de rodovias com pedágio, a CCR (CCRO3) relatou resultados dentro das expectativas, com números sólidos em mobilidade urbana, rodovias e aeroportos, embora esses resultados tenham sido parcialmente compensados por desempenhos mais fracos em suas divisões não essenciais.
Por outro lado, a Ecorodovias (ECOR3) apresentou resultados fortes no 2T24, beneficiada por uma expansão de tráfego, bom controle de custos e melhores resultados financeiros. No segmento de logística de grãos, a Rumo (RAIL3) superou as expectativas do mercado, com números robustos, principalmente devido a tarifas mais altas nas Operações Norte. Em contrapartida, os resultados da Azul (AZUL4) foram fracos, refletindo uma redução de 6% no rendimento anual, a depreciação do real e um aumento de 2% no preço do combustível de aviação.
No setor de bens de capital, os resultados do 2T24 foram surpreendentes. A WEG (WEGE3) registrou uma expansão de margem, menor contribuição das energias renováveis para a receita (que possuem margens menores) e melhorias na demanda da divisão industrial no exterior. No segmento de autopeças, tanto a Tupy (TUPY3) quanto a Iochpe (MYPK3) mostraram uma recuperação de lucratividade decente, apesar de um ambiente desafiador nos mercados de caminhões nos EUA e na Europa. No entanto, a Randon (RAPT4) relatou números fracos no 2T24, impactados por menores volumes no mercado externo e despesas pontuais.
Desempenho dos Processadores de Alimentos e Empresas de Proteína
No segundo trimestre de 2024, os processadores de alimentos enfrentaram desafios consideráveis, como visto nos resultados da M. Dias Branco (MDIA3), que foram impactados negativamente por um mix de preços desfavorável e pela desvalorização do real. No entanto, o cenário foi mais promissor para as empresas de proteína, que, de forma geral, apresentaram resultados robustos durante o 2T24.
Entre os destaques, a BRF (BRFS3) reportou um trimestre histórico, impulsionado por volumes superiores e margens internacionais que continuaram a melhorar consistentemente. A JBS (JBSS3) também superou as expectativas, apresentando resultados significativamente melhores no 2T24. Embora as margens da carne bovina nos Estados Unidos ainda estejam sob pressão, essas dificuldades foram amplamente compensadas pelo excelente desempenho na Austrália. No Brasil, os resultados da JBS foram favorecidos por preços mais elevados do frango, custos de ração mais baixos e melhorias operacionais notáveis. A Minerva (BEEF3) também se destacou, reportando resultados ligeiramente acima do esperado, impulsionados por volumes mais fortes. Da mesma forma, a Marfrig (MRFG3) apresentou um desempenho melhor do que o previsto, graças principalmente à receita líquida mais robusta nos Estados Unidos.
Setor Varejista e E-commerce em Alta
No varejo, o segmento de e-commerce continuou a mostrar força, com o Mercado Livre (MELI34) registrando resultados sólidos, impulsionados por um crescimento expressivo da receita líquida e uma redução significativa na taxa de imposto. O Magazine Luiza (MGLU3) também apresentou um desempenho positivo, beneficiando-se de melhorias em preços, taxas de comissão e serviços, além de uma redução de 5% nas despesas financeiras líquidas, decorrente de menores custos de financiamento e recebíveis.
No segmento de vestuário, as Lojas Renner (LREN3) relataram um trimestre robusto, marcado por uma margem bruta sólida, melhorias nos créditos fiscais e vendas resilientes, apesar das condições climáticas adversas. A Azzas 2154 (AZZA3) superou as expectativas de consenso, impulsionada por créditos de imposto de renda maiores do que o esperado. Além disso, a Vivara (VIVA3) registrou um forte crescimento de receita de 19%, juntamente com a reversão das provisões fiscais do primeiro trimestre, relacionadas a incentivos estaduais.
Desempenho das Varejistas de Alimentos e do Setor de Serviços Públicos
A inflação elevada dos alimentos continuou a favorecer as varejistas de alimentos, mas Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3) enfrentaram desafios significativos, sendo impactados por maiores despesas com juros. Por outro lado, o Carrefour Brasil (CRFB3) superou as expectativas de consenso, graças a melhores resultados operacionais, vendas de ativos e a reversão de provisões fiscais.
No setor de serviços públicos, os resultados foram mistos durante o 2T24. Entre os destaques positivos, a Sabesp (SBSP3) apresentou operações robustas, impulsionadas por tarifas médias mais altas e um bom controle de custos e inadimplência. A Eletrobras (ELET3) também se destacou, com um controle eficaz dos custos, que resultou em uma queda de 12% nas despesas administráveis em comparação ao trimestre anterior, além de novos contratos de venda de energia, que reduziram sua capacidade de energia não contratada em cerca de 10%.
No entanto, nem todas as empresas de serviços públicos tiveram um desempenho positivo. A AES Brasil (AESB3) apresentou um Ebitda 21% abaixo das estimativas, devido a cortes na geração de energias renováveis. A Energisa (ENGI11) também ficou aquém das expectativas, com um Ebitda 11% inferior, impactado por um ajuste negativo nos volumes não faturados. A Neoenergia (NEOE3) registrou resultados abaixo do esperado, com volumes regulados inferiores às previsões.
Outros Destaques por Setor
Entre outros setores, a Cemig (CMIG4) reportou uma queda de 12% nos resultados do 2T24, decorrente de um desempenho fraco na unidade de distribuição, caracterizado por volumes regulados abaixo do esperado e maiores perdas e inadimplência. Contudo, a empresa anunciou um bom rendimento de dividendos de 4,5% no trimestre, influenciado pela reversão de provisões.
No setor de construção, os resultados do 2T24 foram sólidos. As margens continuaram a se recuperar à medida que novos projetos se tornaram cada vez mais relevantes na composição da receita. O Bank of America destacou a Cury (CURY3), que viu sua receita acelerar, acompanhando o forte desempenho das vendas. A MRV (MRVE3) também reportou um trimestre acima das expectativas, refletindo uma recuperação gradual, mas consistente.
O setor de shoppings teve um crescimento moderado no 2T24, conforme esperado. A Allos (ALOS3) relatou um trimestre sólido, alinhado com as previsões do BofA e do consenso, com um aumento de 5,8% nas vendas na base anual, superando o crescimento dos aluguéis e com uma redução adicional no custo de ocupação. A Iguatemi (IGTI11) apresentou resultados em linha com o esperado, com um crescimento moderado da receita bruta. Já a Multiplan (MULT3) ficou ligeiramente abaixo das expectativas, com um crescimento moderado da receita bruta, mas ainda assim as vendas aumentaram 6,3% na base anual, superando o crescimento dos aluguéis pelo segundo trimestre consecutivo, com uma redução no custo de ocupação.
Telecomunicações e Educação: Resultados Sólidos e Expansão de Margens
No setor de telecomunicações, os resultados do 2T24 foram positivos, com uma dinâmica de mercado favorável. As empresas relataram fortes adições líquidas e aumentos de preços em termos reais, o que contribuiu para o crescimento da receita bruta e a expansão das margens. O crescimento sólido da receita de serviços móveis (MSR) reforçou a visão positiva sobre a geração de Fluxo de Caixa Livre para o Acionista (FCFE) e o pagamento de dividendos.
Por fim, no setor de educação, a Ânima (ANIM3) foi um dos destaques positivos, com mais um trimestre de expansão de margens, sustentado por um nível estável de tíquete no segmento principal. A receita líquida da Ser Educacional (SEER3) ficou em linha com as expectativas, mostrando boas tendências operacionais, especialmente com o aumento da exposição a cursos na área de saúde. No entanto, a YDUQS (YDUQ3) enfrentou desafios, com volumes ainda fracos tanto no ensino a distância quanto no presencial, indicando um início lento para o segundo semestre de 2024. A Cruzeiro do Sul (CSED3) também viu suas margens serem impactadas por custos pontuais de reestruturação.